O poder de cura da música
Somos seres rítmicos
O sentimento que nos invade quando ouvimos uma música que gostamos e que de algum modo marcou um momento em nossas vidas, ou quando nosso corpo começa a se mexer, seguindo o ritmo de uma melodia, ou ainda quando escutamos uma melodia e lembramos claramente de alguém, de um local, de uma situação… isso é a música nos afetando psicológica e fisiologicamente. Ainda que não conheçamos os mecanismos pelo qual ela interage conosco, todos já sentimos e conhecemos alguns dos seus efeitos. A razão é que somos regidos por ritmos: ritmo do tempo, ritmo das batidas do coração, o ciclo de ondas cerebrais, o ciclo do sono, da digestão. Somos, essencialmente criaturas rítmicas.
Ao ouvir uma música, as vibrações sonoras alcançam o tímpano e transformam- se em substâncias químicas e impulsos nervosos que se decifram em nossas mentes como ritmos. A íntima relação entre as ondas sonoras e o nosso cérebro passa pelo fato que os nervos do ouvido são extensamente distribuídos e possuem mais ligações do que qualquer outro em nosso cérebro. Isso faz com que a música possa influenciar todas as funções do nosso organismo.
A Música e suas propriedades terapêuticas
O uso da música para finalidade de cura e bem estar não é algo novo, os antigos já intuíam seus efeitos. Aristóteles, Platão e Pitágoras já praticavam terapia musical e a utilizavam especialmente em sua abrangência emocional e espiritual. O que ainda não se tinha por certo era a real dimensão e aplicabilidade do poder da música, mas com a ajuda da tecnologia, novos avanços foram alcançados. Na segunda metade do século XX, estudos médicos conseguem estabelecer cientificamente o impacto da música no nosso sistema nervoso. Esse impacto altera a pressão sanguínea, influencia a respiração, as batidas do coração, além de afetar o balanço hormonal, o temperamento e também as atitudes.
Descobertas Recentes
Recentemente com a tecnologia de imagem, que permite capturar a atividade cerebral em meio às ondas sonoras, estabeleceu- se novos patamares de conhecimento da relação entre música e atividade cerebral.
O tema despertou o interesse da comunidade científica internacional e nacional e reputadas universidades passaram a conduzir pesquisas com diferentes abordagens sobre a aplicabilidade da música.
A Harvard, conceituada universidade norte-americana, conduz experimentos explorando o potencial de sinfonias e canções para amenizar os sintomas de doenças como Alzheimer, Parkinson, depressão e esquizofrenia.
A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) estuda a inter-relação entre música e cognição. Segundo o coordenador do projeto, neurologista Mauro Muszkat, diversos experimentos já demonstraram ser a música capaz de controlar as reações emocionais, facilitar o entendimento das informações cerebrais e estimular a produção de substâncias químicas cerebrais, como a dopamina e a serotonina, que estão relacionadas aos estados de prazer e bem-estar.
A médica Thamine Hatem, pediatra da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), mostrou o efeito da música como ‘audioanalgésico’. Em sua pesquisa, que avaliou uma variedade de situações de dor aguda e crônica, na mensuração da resposta das crianças submetidas à cirurgia cardíaca, estabeleceu que com o uso da música ocorre melhora na frequência cardíaca e respiratória, no consumo de oxigênio e na redução da dor.
No início desse ano, um programa de oncobiologia da UFRJ coordenado por Márcia Capella, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, surpreendeu ao publicar os resultados de sua pesquisa. A pesquisa consistia no uso de musicoterapia em células MCF-7 ligadas ao câncer de mama, expondo-as as diversas sinfonias. Essas células expostas à Quinta Sinfonia de Beethoven obtiveram um resultado extraordinário: uma em cada cinco delas morreram e, entre as células sobreviventes, muitas perderam tamanho e granulosidade.
Certamente muitas questões ainda restam sem respostas, não se sabe precisamente se o efeito da música vem do conjunto da obra ou ainda especificamente de um ritmo, um timbre ou uma intensidade. Mas é inegável, o avanço e a enorme contribuição que a música tem na busca de encontrar formas mais eficientes, menos tóxicas e invasivas de curar e promover o bem estar.
O futuro é promissor, com maiores informações e conhecimentos sobre o impacto que a música exerce no nosso cérebro, humor e saúde, eventualmente poderemos criar uma seleção personalizada que nos beneficie. Aliando nossa saúde e bem estar ao prazer, à conexão com a beleza de viver que a arte da boa música já nos traz.
Sugestão de livros para quem quer se aprofundar na questão:
Do médico oncologista Mitchell L. Gaynor – “Sons que curam”.
Do psicólogo, músico e sociólogo alemão Peter Michael Hamel : “O autoconhecimento através da música”
Por: Soon Hee Han
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